Muita gente já sabe que a comida nos conecta a memória e emoções. A novidade agora é que ela pode também afastar a tristeza, principalmente se houver um consumo maior de feijão. É o que aponta estudo feito por brasileiros das Universidades Federais de Uberlândia (UFU), do Rio de Janeiro (UFRJ) e de São Paulo (USP).
Os dados publicados na edição de dezembro de 2019 da revista “Cadernos de Saúde Pública” sugerem que quem inclui o feijão na sua rotina alimentar pode ter menor ocorrência de depressão, e aqueles que consomem bebidas adocicadas e substituem refeições por lanches rápidos mais de cinco vezes na mesma semana têm maior probabilidade de adoecer. O consumo de feijão no Brasil é parte da dieta nacional e está associado a uma ingestão menor de alimentos processados. O grão possui consideráveis quantidades de fibra e micronutrientes, como ferro, potássio e magnésio, que atuam como antioxidantes e anti-inflamatórios no corpo, produzindo uma espécie de proteção neural do eixo hipotálamo-hipófise-adrenocortical, responsável pelo mecanismo da depressão.
Interessados na associação entre consumo alimentar e depressão, os pesquisadores analisaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, que se baseia na Pesquisa por Domicílios Brasileiros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os hábitos alimentares de 46.785 brasileiros adultos com idades entre 20 e 59 anos foram avaliados por meio da aplicação de um Questionário de Frequência Alimentar. As informações de consumo regular de alimentos saudáveis, como feijão, frutas e vegetais, sucos naturais e de alimentos não-saudáveis, como bebidas adocicadas, doces e lanches foram cruzadas com resultados do Questionário de Saúde do Paciente, que avalia a existência de sintomas depressivos nos adultos, como fadiga, insônia, falta de interesse em realizar atividades e humor deprimido. Foi criada uma pontuação referente à alimentação saudável de acordo com o tipo de alimento e a frequência de consumo.
Interação entre comida e depressão
O impacto da pesquisa está em mostrar que existe uma relação entre os hábitos alimentares e a depressão, doença que atinge 7,9% da população brasileira, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013. A observação de que o consumo de feijão pode ser um elemento protetor é nova na literatura, segundo relata a pesquisadora Kamilla Tavares. “A mensagem que podemos transmitir à população é que dietas baseadas em alimentos do padrão alimentar mais tradicional do Brasil, com arroz e feijão, frutas e hortaliças parecem reduzir o risco de depressão”, comenta a pesquisadora. Os padrões alimentares mencionados pelo estudo podem ser usados por profissionais de saúde para orientar as pessoas na adoção de hábitos alimentares mais saudáveis.
Essa é a primeira pesquisa que investiga a interação entre alimentação e depressão no Brasil. Um dos ganhos do estudo, segundo os pesquisadores, é o foco em alimentos e não em nutrientes. Eles ainda precisam entender como funciona a associação direta entre depressão e hábitos de consumo, interação que parece ser bastante complexa. Para isso, é preciso formular estudos que acompanhem, ao longo do tempo, a alimentação de pessoas sem depressão. Com relação ao feijão, Kamilla afirma que futuros estudos precisam identificar se seu efeito de proteção é ou se o alimento é apenas um marcador de uma dieta mais saudável.