6 de outubro de 2023 Salvar link Foto: Anna Shvets / Pexels
Saúde

Highlights

● Pesquisa analisou tendência de mortalidade infantil por doenças respiratórias infecciosas em Minas Gerais de 2000 a 2020

● 85% dos registros de óbitos não tinham agente infeccioso identificado

● Políticas públicas do SUS e universalização de imunizações podem ter relação com queda no número de mortes registradas

Em duas décadas, os registros de mortes de crianças com menos de doze anos por doenças infecciosas respiratórias no estado de Minas Gerais caíram mesmo levando em conta dados do primeiro ano da pandemia. O maior número de óbitos foi registrado em 2000, primeiro ano da série, com 11% do total, enquanto apenas 1.7% das mortes foram registradas em 2020, ano com menor número de registros no período. Os dados são de estudo de pesquisadores das universidades federais de Juiz de Fora (UFJF) e de Pernambuco (UFPE) publicado na revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde” na sexta (6).

O trabalho identificou 4.688 registros de mortes infantis ocasionadas por doenças infecciosas respiratórias em Minas Gerais de janeiro de 2000 a dezembro de 2020, com uma média anual de 223 falecimentos de crianças. Um total de 54% de óbitos registrados foram do sexo masculino, enquanto 46% foram do sexo feminino. Foram coletados registros de óbitos cuja causa básica de morte era referente a doenças respiratórias infecciosas do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.

Para os estudiosos, a queda nos registros de óbitos nas duas décadas pode ter relação com políticas públicas de saúde implementadas no âmbito nacional, como a Rede Cegonha, que assegura às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, e a expansão da Atenção Básica em Saúde (ABS) e da Estratégia Saúde da Família. Essas duas garantem o acesso gratuito aos serviços essenciais de saúde. Além disso, a universalização das imunizações infantis, por meio das vacinas, também pode ter contribuído para diminuir o número de mortes infantis por doenças infecciosas.

Um dado preocupante do estudo é o alto número de declarações de óbito sem o agente infeccioso bem identificado. Dos quase 4.700 óbitos registrados de 2000 a 2019, 85% não tinham especificação se a doença respiratória foi causada por vírus, bactéria ou fungo. A falta deste detalhamento, que deve constar no atestado de óbito preenchido pelos médicos, traz prejuízos a estudos epidemiológicos, por exemplo.

Em 2020, o registro de agentes infecciosos mudou. Os óbitos decorrentes de agentes virais, que representavam 5,1% dos óbitos em 2019, aumentaram para 29,5% no primeiro ano da pandemia. A hipótese que pode explicar o aumento dessa precisão é que os casos identificados como não especificados passaram a ser registrados como infecção por coronavírus ou infecção sistêmica. “Em 2020, ganharam relevância as manifestações sistêmicas das infecções respiratórias, que, além de afetarem o aparelho respiratório, afetam também outros órgãos. E Covid-19 é sistêmica”, informa Waneska Alexandra Alves, pesquisadora da UFJF e autora do estudo.

Apesar da queda de registros de óbitos de crianças por doenças infecciosas respiratórias, Alves alerta: “A análise de tendência temporal aponta para uma redução do registro de mortes pelas infecções respiratórias, mas isso não é motivo para relaxarmos em relação ao cenário epidemiológico, pois estamos falando de evento letal muito importante que poderia ser evitado na maioria das vezes”. Segundo a pesquisadora, além de estudos para a compreensão deste cenário, é preciso investir em estratégias de prevenção, controle, diagnóstico e tratamento oportuno destas doenças.

 

 

DOI: https://doi.org/10.1590/S2237-96222023000300006.PT

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 6/10/2023, 23:45 – Atualizado em 9/10/2023, 13:38