9 de outubro de 2023 Salvar link Foto: Daisy Anderson / Pexels
Alimentoscriança manuseia doce

Highlights

  • Diagnóstico inédito analisou a distribuição de 75 mil estabelecimentos de comida nos arredores de mais de 3 mil escolas da cidade de São Paulo
  • Pontos de venda de alimentos não saudáveis são mais numerosos perto de escolas privadas
  • Escolas e residências são os ambientes que mais influenciam crianças e adolescentes em escolhas alimentares

Três em cada quatro escolas da cidade de São Paulo estão localizadas em áreas denominadas “pântanos de comida”, um termo usado para descrever regiões com muitos comércios que vendem alimentos prejudiciais à saúde, como produtos ultraprocessados. A situação fica ainda mais grave no caso das escolas particulares, pois elas não possuem políticas de segurança alimentar e nutricional. O diagnóstico inédito do ambiente alimentar destas escolas foi realizado por pesquisadoras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e está publicado na edição de segunda (9) da revista científica “Cadernos de Saúde Pública”.

Ao todo, foram analisadas 3.121 escolas da cidade de São Paulo que oferecem ensino fundamental e/ou ensino médio, e 75.832 estabelecimentos de venda de comida. Os dados das escolas foram coletados do Censo Escolar de 2017. As pesquisadoras também consultaram um banco de dados para verificar a localização e tipo de comércio. Um dos principais objetivos traçados foi entender a distribuição de locais vendendo comidas ultraprocessadas ao redor de escolas. Para isso, foi feita uma avaliação da densidade média de cada tipo de estabelecimento em um raio de 100 a 500 metros quadrados, seguida pelo cálculo da quantidade média e a prevalência de estabelecimentos dentro de um raio de 250 metros, que equivale a uma caminhada de 5 minutos.

A pesquisa revelou que os comércios de alimentos não se instalam de forma aleatória ao redor das escolas: é como se as escolas fossem imãs para estabelecimentos como lojas de doces e minimercados. A administração das instituições de ensino tem influência na decisão, segundo a pesquisa. Nas proximidades de instituições privadas, há mais quantidade de pontos de venda expondo os alunos a alimentos ultraprocessados — o que é um problema, já que, assim como os lares, as escolas são ambientes que influenciam crianças e adolescentes em suas escolhas alimentares.

Segundo Maria Alvim, uma das autoras do artigo e pesquisadora no Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP), esse estudo tem o potencial de colaborar na promoção de políticas públicas. Além das mudanças necessárias dentro das escolas que ainda não possuem nenhum tipo de programa de incentivo a uma alimentação mais saudável, no caso, as particulares, a autora reforça a importância de pensar em alternativas para que os comerciantes da vizinhança não sejam prejudicados. “Precisamos de uma política que ofereça ao comerciante a oportunidade de incluir alimentos mais saudáveis no ponto de venda. É preciso controlar o ambiente para que ele seja mais apropriado para os jovens”, afirma.

Alvim ainda comenta que crianças e adolescentes são a população que mais consome ultraprocessados no mundo e, por isso, há um aumento de doenças crônicas e obesidade nessa idade. A pesquisa oferece um panorama mais detalhado sobre esse cenário a partir da quantidade de escolas e estabelecimentos analisados. “Os alunos da rede pública contam com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que fornece alimentos saudáveis e propõe estratégias de educação nutricional, enquanto as instituições privadas não têm qualquer tipo de regulamentação nesse aspecto. Queremos incentivar outros estudos em mais cidades, comparar os dados e apresentar alternativas”, explica a pesquisadora.

As pesquisadoras estão finalizando um outro artigo, que testa a associação entre as características do ambiente alimentar no entorno das escolas e o consumo efetivo de alimentos por adolescentes do 9º ano. O trabalho dará ainda mais insumos para a proposição de políticas de promoção de ambientes alimentares escolares mais saudáveis.

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Fonte: Agência Bori

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Publicado na Bori em 9/10/2023, 23:45 – Atualizado em 22/4/2024, 14:31