Foto: Rick Rothenberg / Unsplash
Publicado na Bori em 22/8/2023, 17:05 – Atualizado em 22/8/2023, 23:04

Sabine Righetti*

Desde que começamos a desenhar a Agência Bori, tínhamos dois propósitos principais. O primeiro era divulgar todas as áreas do conhecimento — incluindo ciências sociais aplicadas e humanidades, que não costumam aparecer muito em iniciativas semelhantes à Bori mundo afora, geralmente mais focadas em hard sciences. O segundo propósito: dedicar mais esforços a alguns temas, com ações específicas para além da disseminação de estudos. É sobre isso que escrevo hoje.

De fato, a gente tem antecipado à imprensa brasileira estudos científicos de todas as áreas do conhecimento. Para se ter uma ideia, em três anos de atuação desde o lançamento da Bori, em fevereiro de 2020, mais de um terço dos 450 estudos que antecipamos de maneira explicada a jornalistas cadastrados na nossa plataforma eram de ciências sociais aplicadas e humanidades! 

Mas a gente sempre quis ter um olhar mais profundo em temas muito importantes para o país, nos quais a gente conseguisse consolidar, de maneira ampla, uma cobertura jornalística qualificada à luz da ciência. Isso incluiria esforços passando por ações que envolvessem do cientista ao jornalista. Nesse sentido, hoje, trabalhamos com Covid-19, Sistemas alimentares e Amazônia. São as nossas áreas temáticas.

As áreas temáticas da Bori surgiram exatamente nessa ordem. Covid-19 se impôs logo depois do surgimento da Bori (o primeiro caso de coronavírus no Brasil foi detectado duas semanas depois do nosso lançamento!). No nosso segundo ano de atuação já tínhamos a área de Sistemas alimentares. Logo depois veio Amazônia.

Esforço especial

Nesses espaços, jornalistas cadastrados na Bori (hoje são quase 3 mil)  encontram estudos científicos de instituições de pesquisa brasileiras antecipados de maneira explicada com contato do porta-voz — pelo menos duas pesquisas por mês em cada um dos temas. Ou seja: há um esforço especial nosso para prospectar e pautar a mídia com evidências científicas relevantes da área.

Também temos um banco de fontes com o contato direto de cientistas brasileiros preparados para atender a imprensa em cada uma das três áreas temáticas  — hoje, somando, são 550 nomes de todo o país. Esses bancos são preparados cuidadosamente para respeitar critérios fundamentais da Bori como diversidade (de gênero, de raça e regional). E também atendem especificidades de cada tema tratado. No caso da Amazônia, por exemplo, cientistas da região Norte são priorizados. Tudo isso, claro, de acordo com as normas da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais). 

Os pesquisadores da nossa comunidade de cada área temática — porta-vozes dos estudos, integrantes dos bancos de fontes e outros — são periodicamente capacitados de maneira remota pela Bori para falar com a imprensa. Afinal, de nada adiantaria simplesmente divulgar um telefone celular para os jornalistas, né? Do outro lado do balcão, também fazemos sensibilizações periódicas de profissionais do jornalismo da nossa comunidade para apoiar a cobertura da mídia nas três áreas temáticas com base em evidências.

Equipe especial

Essas atividades envolvem toda a equipe da Bori, sem exceção: coordenação, TI, designer, redatores. Analisamos cada ação com cuidado, gerando indicadores que vão balizar a estratégia seguinte. E vale destacar ainda o papel especial da nossa profissional de engajamento de comunidades, que diariamente escuta e dialoga com cientistas e com jornalistas das três áreas temáticas para entender as demandas dos dois lados e como podemos atuar.

E a gente ainda pode ir além nas áreas temáticas. No caso de Covid-19, por exemplo, chegamos a produzir um manual de apoio à cobertura jornalística sobre vacinas, em um momento em que os imunizantes estavam na boca do gol, mas a gente ainda não sabia o que eram as “fases” de pesquisa de vacinas ou “resposta imune” — o Noticiando Vacinas (2020). Fizemos algo semelhante com o manual Explorando Pautas Alimentares (2021).

Também desenvolvemos programas de mentoria de jornalistas de todo o país sobre vacinas, com encontros remotos temáticos e acompanhamento quinzenal de reportagens. Esse programa levou o nome de Infovacina (e teve um prêmio homônimo ao final das duas edições da mentoria para melhor reportagem entre os participantes). Tudo isso foi possível, claro, graças a apoios específicos que recebemos em Covid-19 (do Instituto Serrapilheira e Sabin Vaccine Institute), Sistemas alimentares (Instituto Ibirapitanga) e Amazônia (Instituto Clima e Sociedade).

Impacto e demanda

As ações das áreas temáticas na Bori são sempre acompanhadas de perto e têm alto impacto. Cada estudo antecipado à imprensa de maneira explicada pela Bori tem mais de 20 menções imediatas apenas na imprensa escrita. É muita coisa! Os manuais são constantemente usados pela imprensa (chegam até a ser mencionados em reportagens). E os treinamentos são disputadíssimos: chegam a oito candidatos por vaga.

Assim, nesses três anos, as áreas temáticas da Bori se mostraram bastante acertadas — e ganharam o debate público. Vale lembrar que a volta do Brasil para o mapa da fome, o crescimento do desmatamento da Amazônia nos últimos anos e o enfrentamento da pandemia de Covid deram o tom dos debates eleitorais à presidência em 2022 e foram decisivos para o resultado do pleito. 

Eu e Ana Paula Morales inclusive escrevemos sobre isso no Tendências & Debates da Folha de S.Paulo: “Centrais no resultado da eleição, Covid, Amazônia e fome são, afinal, temas da ciência”. Do artigo: “Levar informação científica para a população por meio da imprensa sobre temas como Amazônia, alimentação e Covid é uma forma de fazer com que a sociedade se torne detentora desse conhecimento”. Isso é essencial para que as evidências científicas sejam fonte para tomadas de decisão nas esferas individual e pública.

Desinformação, Oceanos e Educação

É claro que a gente não para — e estamos desenhando novas áreas temáticas na Bori. Neste 2023, estamos prospectando novos apoiadores para a área de Amazônia e para três novas áreas temáticas que vamos criar: Desinformação (em parceria com a Agência Lupa), Oceanos (com o projeto Ressoa Oceano) e Educação. Também estamos avaliando ampliar a área atual Covid-19 para Saúde pública — com novos parceiros!

A ideia é seguir os mesmos protocolos das áreas temáticas atuais: pelo menos duas pesquisas por mês antecipadas pela Bori em cada um dos temas, banco de fontes de cientistas brasileiros preparados para atender a imprensa, treinamentos de cientistas e de jornalistas. Eventualmente, faremos também ações adicionais — como manuais de jornalismo e mentorias jornalísticas. Tudo isso sempre com o mesmo objetivo: consolidar, de maneira ampla e estruturada, uma cobertura jornalística qualificada nesses temas à luz da ciência.

Se a sua instituição tem interesse em apoiar as atuais áreas temáticas da Bori, as áreas novas que pretendemos criar — ou se, indo além, sugere um novo tema para que a gente trabalhe na Bori — entre em contato com a gente no bori@abori.com.br. Juntos, podemos levar o conhecimento científico cada vez mais longe!

 

*Jornalista co-fundadora da Bori, pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp.