Foto: Nareeta Martins / Unsplash
Publicado na Bori em 13/12/2022, 11:30 – Atualizado em 15/12/2022, 11:25

Por Débora Gallas*

Expressar em coberturas jornalísticas a diversidade biológica e cultural da Amazônia é um desafio incontornável. Os quase 30 milhões de brasileiros que vivem no bioma têm sofrido cada vez mais com os impactos de atividades de exploração dos bens naturais. Em um quilombo no Pará, por exemplo, a mineração e o escoamento do material extraído interferem diretamente na observação do clima local, prática essencial para o planejamento da agricultura e da pesca de subsistência.  Além disso, os serviços ecossistêmicos que a Amazônia é capaz de realizar transcendem os limites do próprio bioma. A degradação da Amazônia interfere no clima de outros biomas e coloca em risco uma espécie de rã a milhares de quilômetros.

Esses e outros alertas estão em pesquisas realizadas na Amazônia antecipadas a jornalistas de todo o Brasil pela Agência Bori em 2022, o primeiro ano de atividades da nossa área temática de Amazônia. Dos 26 estudos científicos que divulgamos desde fevereiro, 22 têm autores vinculados a instituições localizadas na Amazônia Legal, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Museu Paraense Emílio Goeldi, a Embrapa Amapá e a Universidade Federal do Acre (UFAC).

A produção científica local repercutiu não somente em veículos da região, como O Liberal (PA), G1 Acre (AC) e A Crítica (AM), mas também em veículos de outras partes do Brasil, como Agência Brasil, Folha de S. Paulo e UOL. Isto demonstra o interesse nacional naquilo que acontece no maior bioma do país. Esse interesse, infelizmente, é motivado em parte por cenários preocupantes e agravados pela omissão do poder público. Mas também por soluções que vêm dos territórios e da população amazônida, como o uso sustentável de espécies nativas em produtos nacionais, uma alternativa à devastação e incentivo para manter a floresta em pé.

 

Preparar cientistas e jornalistas para noticiar a riqueza da Amazônia

Mudanças climáticas, desmatamento e queimadas estiveram entre os temas apontados por jornalistas cadastrados na Bori como prioritários para aprofundamento com vistas à qualificação de suas coberturas sobre a Amazônia. Com base nessa demanda, produzimos duas edições do curso “Amazônia em Pauta” trazendo oito cientistas com estudos nessas áreas, vinculados em maioria a instituições locais, como a Universidade Federal do Acre (UFAC) e a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), para conversar com os jornalistas. Nesse processo de construção das atividades, contamos com o olhar amazônida da designer de parcerias Mayra Castro, integrante do conselho curador da Bori.

Também incentivamos a cultura de cooperação entre ciência e jornalismo no sentido inverso, com a produção de duas edições do curso “Comunicando a Ciência sobre a Amazônia”. Com o objetivo de treinar pesquisadores para atenderem à imprensa, priorizamos as inscrições de profissionais da Amazônia Legal ao selecionar os interessados, que superaram em quase quatro vezes o número de vagas ofertadas. Os participantes puderam conversar com Fred Santana, editor do site O Vocativo, de Manaus, e Fabiana Figueiredo, editora do G1 Amapá, que compartilharam um pouco de suas rotinas e contribuíram para o entendimento dos cientistas sobre as principais necessidades dos jornalistas em entrevistas.

Desta forma, contribuímos para a consolidação de novos porta-vozes sobre temas variados de pesquisa, desde a ecologia de peixes até a implementação de tecnologias sociais para a conservação da sociobiodiversidade, passando pela gestão de recursos hídricos e pelo manejo do fogo na floresta. Esses cientistas treinados pela Bori estão em nosso banco de fontes da área de Amazônia, que hoje conta com mais de 130 especialistas disponíveis para atenderem aos jornalistas cadastrados na Bori.

A publicação de artigos de opinião de cientistas convidados também fomentou a cobertura sobre a Amazônia. Através da parceria com o Painel Científico para a Amazônia (SPA), publicamos nove análises inéditas de autores do relatório divulgado pelo grupo em 2021, cinco das quais divulgadas em conjunto com o Nexo Políticas Públicas. A necessidade de ampliar as discussões sobre a Amazônia para além dos estudos científicos também nos motivou a organizar o primeiro Spaces da Bori no Twitter com a temática “Amazônia e eleições”. O encontro ao vivo entre jornalistas e cientistas, acompanhado pelo público, foi realizado na véspera do primeiro turno, no dia 28 de setembro.

Encerramos o ano com o evento “Descomplicando a cobertura jornalística científica”, voltado a jovens comunicadores e jornalistas de todo o Brasil, mas com muitos interessados da Amazônia. Os participantes puderam compartilhar dúvidas e dificuldades da utilização de fontes da ciência em reportagens com Alice Martins Morais, jornalista do projeto Liberal Amazon. O interesse crescente da nova geração de jornalistas na cobertura sobre a ciência produzida na Amazônia evidencia a importância de seguir monitorando e disseminando o conhecimento científico gerado na região. Que a Bori possa seguir colaborando nessa missão!

 

*Coordenadora do projeto temático “Amazônia”, apoiado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS)