Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Sessão para votação do relatório da CPI da Pandemia.
Publicado na Bori em 17/10/2022, 13:03

Por Sabine Righetti*

Um dos objetivos da ciência é orientar melhores tomadas de decisão públicas com base em evidências e, assim, impactar positivamente a sociedade. O problema é que isso dificilmente vai acontecer se os resultados de uma pesquisa ficarem restritos aos corredores acadêmicos. Como resolver essa questão? A gente aposta na divulgação da ciência para a imprensa — e trouxemos recentemente alguns casos para mostrar como funciona.

Em 2020, logo no primeiro ano da Bori, o Ministério de Minas e Energia (MME) vetou a extração de gás no Amazonas com uma técnica específica depois que uma pesquisa disseminada à imprensa pela Bori mostrou os riscos dessa técnica. O trabalho foi feito por cientistas da Unicamp com a Universidade de Córdoba (Argentina) e Johns Hopkins University (EUA) bem na época em que se debatia a liberação da exploração de gás na região. Depois de sair na Bori, teve ampla cobertura na imprensa local e em veículos nacionais como “O Globo”.

No ano seguinte, em 2021, uma pesquisa da FGV EAESP antecipada de maneira explicada à imprensa pela Bori deu base a discussões da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid. O trabalho “Coronavirus Politics” (“Políticas do Coronavírus”, em tradução livre) foi mencionado duas vezes em questionamentos sobre a gestão do enfrentamento da Covid feitos por senadores a ex-ministros de Saúde no âmbito da CPI para embasar críticas à condução da gestão da pandemia pelo governo federal.

Em um último exemplo, neste ano, a biopirataria digital com abelhas entrou na pauta do Congresso Nacional e alterou o debate sobre o PL 4429/2020 depois de que uma pesquisa do Inma (Instituto Nacional da Mata Atlântica) foi disseminada a jornalistas pela Bori. Além disso, anúncios do comércio ilegal desses animais — que os colocam em risco de extinção — foram retirados de sites. O trabalho, antecipado a jornalistas pela Bori, foi repercutido em cerca de 60 veículos no dia em que foi publicado.

E esses são apenas alguns exemplos. Para se ter uma ideia, a gente antecipa à imprensa, na Bori, um estudo a cada dois dias — com uma média de 15 repercussões imediatas na imprensa escrita por trabalho disseminado. É muita coisa.

Ainda não temos mapeados os impactos de todas as pesquisas que já divulgamos de maneira explicada aos nossos 2,5 mil jornalistas cadastrados, mas estamos desenhando uma metodologia para fazer esse acompanhamento. O que sabemos é que dificilmente um trabalho impacta uma tomada de decisão se ficar restrito às prateleiras das universidades.

Contei esses três casos reais de impacto da ciência em tomadas de decisão nas áreas de energia, de saúde e de ambiente no último Abec Meetings 2022, evento anual da Abec (Associação Brasileira de Editores Científicos) — que reúne centenas de editores de periódicos científicos. O debate se deu na mesa “Acesso aberto: práticas que ampliam a democratização do conhecimento científico (relatos de experiências)”, comigo e com as pesquisadoras Vanessa de Arruda Jorge (Fiocruz) e Germana Barata (Labjor-Unicamp).

Então, se você é cientista e quer mandar uma pesquisa em vias de publicação para a Bori antecipar à imprensa, clique aqui. O acesso aberto e a democratização do conhecimento passam necessariamente pela divulgação científica e pelo jornalismo.

*Jornalista co-fundadora da Bori, pesquisadora e professora no Labjor-Unicamp.