Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
ONG Rio de Paz estende 600 lenços brancos em frente ao Congresso Nacional como homenagem às vítimas da covid-19.
Publicado na Bori em 25/10/2022, 10:42 – Atualizado em 25/10/2022, 10:56
#MinhaPesquisaNaBori

*Por Soraya Aggege

 

Era notório que os profissionais da linha de frente na guerra contra a Covid-19 foram abalados pelo negacionismo científico adotado pelo governo brasileiro. Tanto que, olhando à distância, o mundo todo soube que faltou equipamento de proteção e sobrou cloroquina no Brasil. Foi por esse prisma que a Internacional de Serviços Públicos (ISP ou PSI da sigla em inglês Public Services International), organização que agrega sindicatos de 154 países, elegeu o Brasil como ponto fora da curva, tanto pelo negacionismo científico quanto pela autocracia política, ao lado de Zimbábue, Paquistão e Tunísia.

ISP produziu um documentário interativo, o Behind the Mask, com uma edição em Manaus, contando o drama brasileiro a partir da narrativa de uma enfermeira manauara. A demanda para a nossa assessoria era divulgar o trabalho pela imprensa, dando exclusividade para um grande veículo nacional. Como, após dois anos de crise sanitária e em meio a uma eleição, o interesse dos brasileiros pelo tema havia diminuído, precisávamos de informações inéditas que chamassem a atenção pública para o fato de que o pelotão de frente da pandemia fora demolido e jamais reconhecido.

Escolhemos o jornalista de dados, parceiro de outros exímios trabalhos, Marcelo Soares, da Lagom Data, para responder à grande questão. O Brasil não contabilizou sequer quantos agentes de saúde trabalharam nos picos da pandemia. Como saber o tamanho do estrago que a imprensa nunca divulgou e que nosso cliente quer mostrar? A Lagom Data cruzou bancos de dados públicos e preparou um relatório inédito mostrando que 4.500 profissionais da saúde morreram entre março de 2020 e dezembro de 2021, 80% mulheres e 2/3 sem contratos formais. A maioria exercia as ocupações mais modestas do setor da saúde, na técnica de enfermagem.

Parceira de alta credibilidade junto à imprensa tradicional e à especializada, procuramos pela Agência Bori para avaliação do nosso trabalho. Confiamos o embargo e auxiliamos com a distribuição e o relacionamento de imprensa. O resultado foi surpreendente: mais de 70 veículos nacionais replicaram o texto explicativo divulgado via Bori ou produziram seu próprio conteúdo a partir da pauta, como Folha de S. Paulo, Nexo Jornal, Valor Econômico, Folha Vitória, O Povo, GZH.  Em efeito cascata, a pesquisa também repercutiu no exterior: mais de 40 estrangeiros divulgaram o relatório, em espanhol e inglês, pela América Latina, Europa, Índia e China.

As informações contidas na pesquisa seguem ganhando atenção pelo Brasil, replicadas ultimamente em veículos dos próprios trabalhadores, que seguem se movendo para receber direitos como indenizações e reposições de perdas salariais e atenção para sequelas. O resultado de público não foi um sucesso nosso, da Lagom Data, da ISP ou mesmo da Bori. Foi uma prova clara, graças à Bori e à Lagom Data, de que o jornalismo científico e bem embasado é muito necessário e faz sucesso.

 

* Soraya Aggege é jornalista e consultora de comunicação pela Reserva Comunicação e Estratégia e divulgou estudo que levantou mortes de profissionais de saúde na linha de frente da pandemia em outubro de 2022.