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Publicado na Bori em 19/12/2022, 8:08 – Atualizado em 19/12/2022, 8:17

Por Natali Carvalho*

 

No ano em que o Brasil volta ao mapa da fome, o debate público envolvendo os sistemas alimentares se torna cada vez mais urgente e necessário. Com isso em mente, em 2022 pautamos a imprensa com mais de 35 estudos e artigos de opinião inéditos sobre insegurança alimentar, produção e consumo de alimentos e nova rotulagem de alimentos.

Divulgamos um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que afirma que quase metade dos lares chefiados por mulheres negras em Salvador sofrem com insegurança alimentar, que repercutiu em 20 veículos como a Agência Brasil e o G1 Bahia. Trouxemos também pesquisadores que entendem do assunto para discutir este problema que afeta milhões de brasileiros e mostrar caminhos para enfrentar a fome, como dialogar com movimentos sociais e reconstruir as políticas públicas de alimentação no país.

Mas a atividade dessa grande área não focou apenas na fome, pois entendemos que olhar para nossos sistemas alimentares envolve, também, levantar questões sobre a importância dos insetos nas práticas da agricultura e das leis de regulação para evitar consumo de alimentos não saudáveis. Pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) revelaram redes de comércio ilegal de ninhos de abelhas sem ferrão na internet, ameacando a conservação de espécies brasileiras, enquanto pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constataram que abelhas e borboletas – relevantes polinizadoras – estão em declínio no Brasil.

Com bastante destaque nas discussões do campo dos sistemas alimentares este ano, tivemos pesquisas disseminadas sobre a nova rotulagem dos alimentos, que passou a valer a partir de outubro de 2022. Segundo os estudos divulgados, ela pode ser pouco útil para o consumidor e suas alegações nutricionais podem confundi-lo. Além disso, a nova rotulagem é menos eficaz para identificar produtos nocivos voltados a crianças que modelos adotados na América Latina, segundo os pesquisadores.

Outro fato importante é que buscamos a diversidade da ciência brasileira e, por isso, 64,3% dos estudos disseminados pela Bori em 2022 foram feitos por mulheres. Também divulgamos estudos que focaram na narrativa de gênero, como é o caso das hortas urbanas que geram renda para sobreviventes de violência doméstica na cidade de São Paulo.

Em 2022, trouxemos estudos feitos longe do eixo Rio-São Paulo em universidades como as federais do Paraná (UFPR), de Santa Maria (UFSM) e do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS). Um exemplo é o relatório produzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que identificou que o Programa Nacional de Alimentação (PNAE) dá preferência a produtos de origem animal de grandes empresas e frigoríficos, no estado do Rio Grande do Norte.

Para além da repercussão de estudos, foram realizadas coletivas, encontros exclusivos para jornalistas, em parceria com o Nexo Políticas Públicas que contou com a participação de, em média, dez jornalistas de todas as regiões do país . Nas vésperas do segundo turno das eleições, também fizemos um debate sobre alimentação no Brasil do Twitter Spaces, em parceria com O Joio e O Trigo. 

Foi um ano de intensa produção para levar a ciência de qualidade, feita em instituições de norte a sul do país, para centenas de jornalistas atuando em diversas editorias nos tantos veículos jornalísticos do Brasil. Em 2023, continuamos essa missão – e esperamos contar com a parceria de cientistas e jornalistas interessados em transformar a ciência em matéria do cotidiano das pessoas. Não mediremos esforços para termos ainda mais diversidade na divulgação de estudos, com produções vindas não só do sudeste, mas também das outras regiões do Brasil.

 

*Coordenadora do projeto de Sistemas Alimentares da Bori, apoiado pelo Instituto Ibirapitanga